LIVRO DE VIAGEM
Não há coisa pior do que pessoas mal preparadas para dar informações.
Sr. Genaro, italiano (75 anos), estava se preparando para fazer sua segunda viagem de volta à sua terrinha, quase 60 anos depois que saiu de lá. Passaporte velhinho, foto amarelada, começou ele mesmo a tratar da renovação do passaporte para a sua tão sonhada viagem, que ganhara por participar de um sorteio.
Como não conhecia e não entendia nada de internet, resolveu tentar resolver pessoalmente a questão. Afinal, era só para renovar e não para tirar um novo passaporte, o que achava que iria ser mais fácil. Foi até o posto da Polícia federal (depois de muito rodar à pé procurando) e se dirigiu ao balcão de informação onde encontrou lá outro senhor, o sr. Pedro, já de meia idade, quase a mesma do sr. Genaro e que tinha sido remanejado de outro setor, por atrapalhar o serviço dos outros colegas de trabalho.
Sr. Pedro nunca tinha visto um passaporte na vida e seus pais (bota tempo nisso) chamava os passaportes de livro de permissão de viajem e colocou uma faixa na frente do balcão, informando para quê ele estava atrás daquele balcão: “AQUI - LIVRO DE VIAGEM” .Sr. severino estava procurando uma placa escrita PASSAPORTE, enquanto todo mundo lhe indicava o balcão do sr. Pedro. Ele então foi ele ter com o sr. Pedro.
- É aqui que renova passaporte ?
- Passaporte ? não, livro de viajem.
- Mas eu não quero livro, eu quero renovar meu passaporte.
- O senhor não quer viajar ? pergunta sr. Pedro.
- Claro que sim.
- Então vai precisar de livro de viajem.
- meu senhor, depois eu compro livro, agora eu só quero renovar meu passaporte.
- Depois o senhor fazer isso aí, agora precisar de livro de viajem.
- mas o que é isso ? venda casada ? o que está acontecendo aqui ?
- Meu amigo não grite, aqui é local de silêncio.
- silêncio uma ova, isso não é hospital, é a polícia federal.
- O senhor procure ser mais claro no que deseja. (insiste o sr. Pedro)
- Mais claro ainda ? já disse, eu quero viajar e pra isso eu preciso renovar o passaporte.
- Olha, esquece esse negócio aí de passaport que isso é nome de whisk e não fornecemos informações para bêbados nem alcólatras.
- Mas quem é que está bêbado aqui ? O senhor ficou louco ?
- Calma meu amigo, o senhor está se alterando, deve ser o efeito da bebida.
- mas que bebida meu amigo, o senhor não tem noção do que está dizendo.
- Se o senhor não se acalmar, terei de chamar o segurança por desacato.
- Isso não pode estar acontecendo, só pode ser um pesadêlo.
- Senhor, tem outras pessoas querendo ser atendidas, diga logo o que o sr. Quer.
- Já disse, eu quero renovar meu passaporte.
- mas que passaporte, o sr. só insite nisso ! Já disse que aqui é lugar de livro de viajem.
- O senhor está brincando comigo não está ? ESTÁ BEM ! Eu compro este livro de viagem.
- Senhor, aqui não vendemos livros de viagem.
- o senhor está querendo me enlouquecer ou o quê ? há duas horas só fala nesse maldito livro e agora que finalmente eu quero comprar, o senhor diz que não vende ?
- Mas quem foi que disse que eu vendia livros aqui.
- Isso não está acontecendo.
- O que não está acontecendo ?
- O senhor quer me dizer o que está fazendo aí do outro lado do balcão ?
- isso aqui é um guichê de atendimento para pessoas que precisam de livrros de autorização para viajar.
Foi quando caiu a ficha do seu severino. Ele então apanhou o seu passaporte do bolso e mostrou ao seu pedro e disse, com toda calma que o desespêro pode proporcionar:
- por acaso este livro é parecido com isso aqui ?
- mas então o senhor também tem um livro. Porque não disse logo. O senhor não precisar tirar um, é só renovar.
- Jura ?
Seu severino teve um acesso de fúria e destruiu todo posto da polícia federal, que o algemou e o levou preso por desacato e destruição do patrimônio público. Depois de interrogado, o delegado até entendeu os motivos da raiva e ainda queria ajudá-lo.
- Olha seu severino, pelo o que o senhor fez eu não posso soltá-lo, mas como o senhor é estrangeiro, eu poderia extraditá-lo para a itália. O senhor ficaria pouco tempo preso e iria poder passear pela sua terra e com as passagens paga pelo governo daqui e de lá, não seria ótimo ? Mas receio não poder ajudá-lo.
- Mas porque não, doutor delegado ?
- Seu passaporte está vencido.
Por: Amadeu Epifânio
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